O que rolou na Audiência Pública de 12 de Julho
na Câmera
A deputada Manuela d'Ávila, autora do requerimento, preside a
audiência. O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) anunciou nesta terça-feira que o
presidente da Câmara, Março Maia, determinou a reinstalação, logo após o recesso
parlamentar, da Comissão Especial de Anistia da Câmara. O colegiado, que
funcionou entre abril de 2008 e dezembro de 2010, voltará a acompanhar a
aplicação da Lei 8.878/94 , que determinou anistia de demitidos no governo
Collor (1990-92).
Daniel Almeida, que presidiu a comissão especial, disse que, depois da
realização de 21 audiências públicas com o objetivo de apoiar a reintegração dos
demitidos, já passou a hora de concluir o processo. Essa é uma página que a
gente tem que virar, cabe ao Estado resolver essa questão de uma vez por todas,
sustentou o deputado, ao participar de audiência pública sobre o tema promovida
pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias, no auditório Nereu Ramos, lotado
por pessoas que esperam a reintegração. A reunião foi presidida pela deputada
Manuela d'Ávila (PCdoB-RS).
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) responsabilizou o PSDB e o DEM pela
interrupção dos trabalhos da comissão, por terem retardado a indicação de seus
representantes, e exortou os demitidos a pressionar as lideranças desses
partidos. Até o Collor já voltou, está lá no Senado, mas vocês ainda não,
lembrou Faria de Sá, sob aplausos. A deputada Andreia Zito (PSDB-RJ) revelou ter
sido indicada por seu partido para fazer parte da comissão assim, disse, o
problema está superado.
Parecer favorável
Durante o evento, o consultor-geral da União, Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy,
garantiu empenho do governo para resolver o problema em futuro imediato. Ele
disse que deve sempre prevalecer o parecer dado em 2007 pelo então
advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli (hoje ministro do Supremo
Tribunal Federal), pelo qual qualquer dúvida de interpretação da lei deve ser
dirimida em favor do funcionário anistiado. É deplorável que, após 21 anos,
ainda estejamos á espera de uma definição, afirmou Moraes Godoy.
Representante da Advocacia-Geral da União (AGU), Neleide Abila qualificou o
parecer de Dias Toffoli de um divisor de águas no caso. A partir do parecer, de
2008 para ca, trabalhamos com dedicação exclusiva e analisamos, caso a caso,
mais de 15 mil processos, disse, acrescentando que a AGU tem o compromisso de
colocar agora um ponto final nessa história.
Ao fazer um balanço do processo de reintegração, o secretário de Recursos
Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, informou que já
foram deferidos 12.164 pedidos de reintegração, dos quais 9.781 funcionários
retornaram efetivamente ao trabalho, 199 tiveram o retorno inviabilizado, por
motivos diversos, e 2.105 estão prontos para retornar, em fase de definição do
local de lotação.
Já os pedidos indeferidos somam 2.216, dos quais 1.338 deram origem a recursos.
Outros 705 processos ainda aguardam julgamento. Duvanier revelou que a comissão
interministerial decidiu abrir uma nova possibilidade de defesa para o
recorrentes, permitindo que eles façam sustentação oral, além de apresentar
testemunhas.
Falta de igualdade
As procuradoras Ludmila Reis Brito Lopes e Dinamar Cely Hoffmann, do Ministério
Público do Trabalho (MPT) denunciaram falta de igualdade nas relações de
trabalho da maioria dos funcionários reintegrados. Enquanto o anistiado político
é tratado como herói, esse funcionário é discriminado e recebido como se fosse
um favor, quando não é favor algum, comparou Dinamar Hoffmann.
Ludmila Lopes assegurou que o MPT está atento e que a administração pública e os
magistrados precisam compreender que a anistia tem que ser interpretada à luz
dos princípios maiores da dignidade humana. As procuradoras ressaltaram que o
órgão permanece aberto a receber todas as denúncias de discriminação e assédio
moral.
Plano de cargos e salários
O deputado Luiz Couto (PT-PB) defendeu um plano de cargos e salários para
valorizar os anistiados e combater a discriminação e o assédio moral. Muitos
dizem que vocês estão no limbo, mas isso não é verdade, porque o Vaticano já
concluiu que o limbo não existe. Portanto, vocês estão mesmo é na pindaíba,
disse Couto, que é padre, ao público do evento.
O deputado Vicentinho (PT-SP) cobrou do governo uma melhor política de recursos
humanos e propôs aos anistiados a elaboração de um amplo dossiê reunindo casos
concretos da humilhação sofrida, para apresentá-lo ao governo e à Justiça. Sei
que muitos têm medo de se expor, mas não adianta ficar quietinho porque a
humilhação é a mesma, argumentou.
O ex-deputado Pompeo de Matos (PDT-RS) defendeu o reenquadramento dos
anistiados. É um absurdo precisarmos de uma lei para fazer cumprir a Lei
8.878/94, mas o fato é que muitos ainda não voltaram e outros não voltaram para
onde deveriam, comentou.
Fonte: Câmara