SERVIDORES
Demitidos por Collor voltarão
Luciano Pires
Da equipe do Correio
A novela em que se transformou a readmissão de
servidores públicos federais demitidos durante o governo Collor (1990-1992)
está próxima do fim. Um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), que já
está pronto e será entregue ao Ministério do Planejamento entre hoje e
amanhã, acaba com uma série de dúvidas jurídicas que emperravam a
incorporação dos funcionários. Com isso, o caminho fica livre para a
convocação imediata de quem foi afastado das funções por perseguição
política.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que dificuldades
técnicas e legais minaram os esforços do governo de acelerar a recontratação
das pessoas. “Havia muita divergência jurídica e pedimos formalmente à AGU
que fizesse um parecer. Vamos encaminhar essa questão conforme as
recomendações da Advocacia-Geral”, completou. De acordo com o secretário de
Recursos Humanos, Duvanier Ferreira, a intenção é reintegrar uma parte dos
anistiados ainda este ano.
O parecer da AGU contempla quase todos os anseios do servidor que alega ter
sido injustiçado e deseja voltar à ativa. A maior parte dos que tentam
recuperar o posto de trabalho se sentirá atendida, mas o documento não
pretende ser unânime. A principal dificuldade, segundo relatos de
especialistas que participaram da formulação do estudo, foi definir o
conceito de demissão política. É com base nele que as assessorias jurídicas
dos órgãos vão se guiar para aceitar ou não o argumento do servidor que
pretende reassumir o cargo.
Nas contas do governo, 6,7 mil funcionários estão aptos a voltar — todos
tiveram processos de reincorporação analisados e aprovados pela Comissão
Especial Interministerial (CEI). Ainda restam cerca de 4 mil. As demissões
ocorridas na era Collor, de acordo com dados não-oficiais, chegam a 108 mil,
sendo que desse universo, 37 mil teriam reivindicado à União o retorno. Até
1994, 13,7 mil foram readmitidos.
Sem efeito
Em abril, o Diário Oficial da União publicou o Decreto 6.077, que autorizava
o retorno dos servidores demitidos. As contratações, no entanto, não
aconteceram na velocidade esperada e o ato acabou tendo pouco efeito
prático. Como forma de protesto, muitas categorias se mobilizaram e
pressionaram o governo. Independentemente do decreto, as readmissões deverão
obedecer alguns critérios, respeitar a necessidade de cada órgão e terão de
ser respaldadas pela disponibilidade orçamentária — em 2007, foram
reservados no Orçamento R$ 78 milhões. Todo o processo está centralizado no
Ministério do Planejamento, que fará a comunicação aos órgãos e observará a
urgência ou não da reintegração.
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